Tovar, da Truxt: “Lula precisa apresentar o ministro da Economia o mais rápido possível” – Pipeline Valor, 30 de outubro de 2022
Definição da linha econômica e relacionamento com Congresso darão o tom do novo governo
Por Maria Luíza Filgueiras — São Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva venceu uma acirradíssima eleição presidencial, voltando ao poder para seu terceiro mandato e marcando a derrota do atual presidente Jair Bolsonaro – o primeiro a não ser reeleito desde que essa possibilidade existe na democracia brasileira. No mercado financeiro, os ajustes de preços já vinham se pautando nas pesquisas eleitorais e no resultado do primeiro turno, mas ainda haverá volatilidade até que o político eleito abra finalmente o jogo sobre a linha econômica que vai seguir.
À frente de uma das maiores gestoras independentes do país, José Tovar, CEO da Truxt, conversou há pouco com o Pipeline sobre sua leitura deste domingo e do que está por vir.
Economia
“Hoje o Lula comemora a vitória e o mais rápido possível precisa apresentar o ministro da Economia e com isso sua política fiscal, que é o mais importante. Ambas as campanhas foram muito pouco esclarecedoras sobre o que os candidatos fariam na economia. Foram platitudes, conjuntos de promessas como isenção de IR, aumento de salário mínimo, quando sabemos que o budget é limitado.
O que temos ouvido é que ele viria com um ministro mais na linha política, de negociação, e montaria um time econômico embaixo desse ministro. Mas, diante de tanta pressão, não sabemos se é isso que ele vai fazer. Os nomes especulados são conhecidos, mas a decisão é do Lula e espero que ele a tome muito em breve, já que não tem mais o risco eleitoral e não tem porque adiar isso.”
Mercado
“A eleição do Lula não foi uma surpresa. Amanhã, na abertura do mercado, o que vai influenciar é se dólar abre forte no mundo, como abrem as bolsas internacionais. Não acho que haverá cavalo de pau nenhum no mercado local, mas um ajuste final conforme o vencedor e ainda com essa especulação grande sobre quem vai ser ministro da Fazenda.”
Congresso
“Lula pega um Congresso mais hostil. O resultado da eleição do Congresso foi muito mais para o Centro-Direita e bancada bolsonarista. Lula vai ter que usar sua habilidade e capital político para influir na presidência da Câmara. É um cargo estratégico. O que mudou no Brasil é que hoje o Congresso detém o controle do orçamento e está numa posição muito privilegiada, que nunca teve. Foi durante o governo Bolsonaro que o Congresso assumiu o controle do orçamento e não vai ser simples.
Mas Lula é habilidoso, vamos ver como lidará com isso. Vai ter forças contrárias, como os caminhoneiros, agronegócio, os evangélicos. Mas ele já se mostrou um político resiliente, ganhou a eleição contra o incumbente, o que é difícil no Brasil com o incumbente com mais recursos. Claramente foi uma eleição definida pela rejeição.”
Transição
“Já está se desenhando uma transição harmônica de poder. Não digo colaborativa, mas pacífica. Em poucas horas, os líderes internacionais já se manifestaram, o ministro do TSE, o presidente da Câmara, e me parece que esse ritmo de respeito à democracia vai permanecer. Havia um medo em relação a isso, mas o establishment já mostrou seu compromisso com a democracia.”
Tovar lembra que, em relação ao povo brasileiro, o político também encara um desafio, mesmo já eleito. “A eleição foi muito apertada. O país sai muito dividido dessa eleição e Lula vai ter que usar a habilidade política dele para acalmar o país.”