Otimismo local derruba juros futuros à mínima desde 2021 | Finanças | Valor Econômico (globo.com)
Taxas de médio prazo caem abaixo de 10% e mercado precifica chance majoritária de um corte de 0,5 ponto na Selic em agosto
Por Victor Rezende e Augusto Decker — De São Paulo
Com a porta aberta para o início do ciclo de flexibilização da Selic, o mercado já embute nos preços um cenário expressivo de cortes de juros à frente. O gatilho positivo exercido pela manutenção das metas de inflação em 3% se somou ao ajuste baixista nas expectativas de inflação no Focus e levou as taxas futuras às mínimas do ano. Em alguns vencimentos, inclusive, os juros ficaram abaixo de 10%, o que não acontecia desde 2021. O ambiente construtivo, assim, levou o mercado a precificar chance majoritária de corte de 0,5 ponto na Selic já em agosto, o que deu apoio ao Ibovespa, que se aproximou novamente dos 120 mil pontos.
O mercado de juros já sustentava tendência baixista nos últimos meses, mas a manutenção da meta de inflação em 3% – cuja decisão se deu na última quinta-feira – proporcionou três pregões consecutivos de forte queda das taxas futuras. Os investidores, assim, começam a se preparar para o ciclo de flexibilização monetária que deve ter início em agosto.
A precificação dos próximos passos do Copom na curva de juros impressiona. O mercado atribui cerca de 70% de chance à possibilidade de uma redução de 0,5 ponto na Selic em agosto e precifica uma taxa em torno de 11,5% no fim deste ano e de 8,5% em 2024.
Os agentes já aguardavam alguma queda nas expectativas de inflação após a manutenção da meta em 3%. O movimento visto no Focus ontem, porém, agradou e permitiu um bom desempenho dos ativos. Os economistas de mercado derrubaram a projeção para o IPCA de 2025 de 3,80% para 3,60%, enquanto a mediana das estimativas para a inflação de 2026 caiu de 3,72% para 3,50%. Além disso, a expectativa para a Selic no fim deste ano passou de 12,25% para 12%.
“O mercado está reduzindo a expectativa para a Selic no Focus, ao mesmo tempo em que a expectativa de inflação cai; o câmbio aprecia e a curva não fica mais inclinada. Os juros longos não estão se comportando pior que os curtos. É como se o mercado dissesse que o corte é responsável e que o BC não está fazendo algo errado”, avalia Guilherme Foureaux, sócio e gestor macro da Truxt Investimentos.
Nesse sentido, embora a gestora espere, em seu cenário básico, um corte de 0,25 ponto na Selic em agosto, uma redução de 0,5 ponto não pode ser descartada. “Se a inflação no horizonte relevante cair mais rapidamente do que a Selic continuará sendo um aperto. Se a melhora for muito forte, como nas últimas semanas, um corte de 0,5 ponto se encaixa num ritmo ‘parcimonioso’”, defende Foureaux.
É um cenário semelhante ao defendido pelos economistas do Banco Safra, que projetam um corte de 0,5 ponto nos juros em agosto. “Dado o tanto em território restritivo em que a Selic se encontra atualmente, prevemos redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto na próxima reunião, o que facilitaria cortes de igual magnitude nas reuniões subsequentes, até que a taxa Selic atinja 8,75% no terceiro trimestre de 2024”, afirmam os economistas do banco em relatório semanal enviado a clientes.
Para Foureaux, da Truxt, a discussão sobre o tamanho do primeiro corte nos juros tem importância menor no momento. A gestora, inclusive, está alocada em ativos brasileiros por acreditar que, mesmo com a melhora recente nos mercados domésticos, houve progresso nos fundamentos. “O país ganhou credibilidade após a decisão do CMN, que foi correta e acertada. Os preços dos ativos refletem essa melhora nos fundamentos, e não uma especulação”, afirma.
Mesmo em prazos mais longos, os juros futuros testaram as mínimas do ano e operaram abaixo do nível psicologicamente importante de 10%. A taxa do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,09% para 9,945%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 recuou de 10,115% para 9,965%. Já na renda variável, o Ibovespa fechou em alta de 1,34%, aos 119.673 pontos. O dólar, porém, destoou dos demais e fechou em alta de 0,39%, a R$ 4,8078.
O cenário mais positivo dos ativos brasileiros também foi capturado pela BlueLine Asset, que mantém algumas posições mais construtivas no mercado doméstico. “No começo do ano não tínhamos um arcabouço fiscal e não tínhamos certeza sobre o arcabouço monetário. Isso gerava muita imprevisibilidade. Agora a parte fiscal está se consolidando, embora não seja tão rígida quanto o teto, e temos previsibilidade em relação à inflação. Isso é extremamente positivo. A confirmação da meta em 3% justifica uma melhora adicional nos preços”, avalia Gustavo Brotto, sócio e gestor da BlueLine.
“O câmbio está operando super bem, até por causa do cenário global mais favorável; o mercado acionário pode começar a trabalhar com juros mais baixos, o que aumenta o ‘valuation’ das ações; e, quando olhamos a renda fixa, o nível dos juros está muito alto e permite ao BC iniciar um ciclo de forma cautelosa”, diz Brotto. A BlueLine projeta um corte de 0,25 ponto na Selic em agosto e vê uma aceleração do movimento para 0,5 ponto nas outras decisões do ano.
Ao ver um cenário também bastante cauteloso do BC na condução da política monetária, Clayton Calixto, especialista de portfólio da Santander Asset Management, acredita que a curva de juros “já andou muito”, especialmente após a intensificação da queda das taxas desde a semana passada. “Não vemos prêmio na parte curta da curva”, diz o profissional, ao destacar o cenário da casa de um ciclo de cortes mais cauteloso, com uma taxa de 12% em dezembro.
Calixto diz ver um momento de “euforia” nos juros de curto prazo, mas ressalta que o movimento não é apenas no Brasil e que é normal que os agentes “superestimem” os ciclos de redução de juros em seu início. “Vemos muito mais cortes precificados na curva do que os bancos centrais estão dispostos a entregar e esse não é um fenômeno apenas do Brasil, mas em outros emergentes”, nota o profissional ao citar as curvas de juros do Chile, do México e da Hungria.
Neste momento, a Santander Asset revela ter posições aplicadas – que são as que apostam na queda das taxas – em juros de prazo intermediário, de cerca de três anos, e não tem exposição no momento a juros reais (NTN-Bs). (Colaboraram Matheus Prado e Arthur Cagliari)