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04.jul.2023
Otimismo local derruba juros futuros à mínima desde 2021 – Valor, 04 de julho de 2023

Otimismo local derruba juros futuros à mínima desde 2021 | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Taxas de médio prazo caem abaixo de 10% e mercado precifica chance majoritária de um corte de 0,5 ponto na Selic em agosto

Por Victor Rezende e Augusto Decker — De São Paulo

Com a porta aberta para o início do ciclo de flexibilização da Selic, o mercado já embute nos preços um cenário expressivo de cortes de juros à frente. O gatilho positivo exercido pela manutenção das metas de inflação em 3% se somou ao ajuste baixista nas expectativas de inflação no Focus e levou as taxas futuras às mínimas do ano. Em alguns vencimentos, inclusive, os juros ficaram abaixo de 10%, o que não acontecia desde 2021. O ambiente construtivo, assim, levou o mercado a precificar chance majoritária de corte de 0,5 ponto na Selic já em agosto, o que deu apoio ao Ibovespa, que se aproximou novamente dos 120 mil pontos.

O mercado de juros já sustentava tendência baixista nos últimos meses, mas a manutenção da meta de inflação em 3% – cuja decisão se deu na última quinta-feira – proporcionou três pregões consecutivos de forte queda das taxas futuras. Os investidores, assim, começam a se preparar para o ciclo de flexibilização monetária que deve ter início em agosto.

A precificação dos próximos passos do Copom na curva de juros impressiona. O mercado atribui cerca de 70% de chance à possibilidade de uma redução de 0,5 ponto na Selic em agosto e precifica uma taxa em torno de 11,5% no fim deste ano e de 8,5% em 2024.

Os agentes já aguardavam alguma queda nas expectativas de inflação após a manutenção da meta em 3%. O movimento visto no Focus ontem, porém, agradou e permitiu um bom desempenho dos ativos. Os economistas de mercado derrubaram a projeção para o IPCA de 2025 de 3,80% para 3,60%, enquanto a mediana das estimativas para a inflação de 2026 caiu de 3,72% para 3,50%. Além disso, a expectativa para a Selic no fim deste ano passou de 12,25% para 12%.

“O mercado está reduzindo a expectativa para a Selic no Focus, ao mesmo tempo em que a expectativa de inflação cai; o câmbio aprecia e a curva não fica mais inclinada. Os juros longos não estão se comportando pior que os curtos. É como se o mercado dissesse que o corte é responsável e que o BC não está fazendo algo errado”, avalia Guilherme Foureaux, sócio e gestor macro da Truxt Investimentos.

Nesse sentido, embora a gestora espere, em seu cenário básico, um corte de 0,25 ponto na Selic em agosto, uma redução de 0,5 ponto não pode ser descartada. “Se a inflação no horizonte relevante cair mais rapidamente do que a Selic continuará sendo um aperto. Se a melhora for muito forte, como nas últimas semanas, um corte de 0,5 ponto se encaixa num ritmo ‘parcimonioso’”, defende Foureaux.

É um cenário semelhante ao defendido pelos economistas do Banco Safra, que projetam um corte de 0,5 ponto nos juros em agosto. “Dado o tanto em território restritivo em que a Selic se encontra atualmente, prevemos redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto na próxima reunião, o que facilitaria cortes de igual magnitude nas reuniões subsequentes, até que a taxa Selic atinja 8,75% no terceiro trimestre de 2024”, afirmam os economistas do banco em relatório semanal enviado a clientes.

Para Foureaux, da Truxt, a discussão sobre o tamanho do primeiro corte nos juros tem importância menor no momento. A gestora, inclusive, está alocada em ativos brasileiros por acreditar que, mesmo com a melhora recente nos mercados domésticos, houve progresso nos fundamentos. “O país ganhou credibilidade após a decisão do CMN, que foi correta e acertada. Os preços dos ativos refletem essa melhora nos fundamentos, e não uma especulação”, afirma.

Mesmo em prazos mais longos, os juros futuros testaram as mínimas do ano e operaram abaixo do nível psicologicamente importante de 10%. A taxa do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,09% para 9,945%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 recuou de 10,115% para 9,965%. Já na renda variável, o Ibovespa fechou em alta de 1,34%, aos 119.673 pontos. O dólar, porém, destoou dos demais e fechou em alta de 0,39%, a R$ 4,8078.

O cenário mais positivo dos ativos brasileiros também foi capturado pela BlueLine Asset, que mantém algumas posições mais construtivas no mercado doméstico. “No começo do ano não tínhamos um arcabouço fiscal e não tínhamos certeza sobre o arcabouço monetário. Isso gerava muita imprevisibilidade. Agora a parte fiscal está se consolidando, embora não seja tão rígida quanto o teto, e temos previsibilidade em relação à inflação. Isso é extremamente positivo. A confirmação da meta em 3% justifica uma melhora adicional nos preços”, avalia Gustavo Brotto, sócio e gestor da BlueLine.

“O câmbio está operando super bem, até por causa do cenário global mais favorável; o mercado acionário pode começar a trabalhar com juros mais baixos, o que aumenta o ‘valuation’ das ações; e, quando olhamos a renda fixa, o nível dos juros está muito alto e permite ao BC iniciar um ciclo de forma cautelosa”, diz Brotto. A BlueLine projeta um corte de 0,25 ponto na Selic em agosto e vê uma aceleração do movimento para 0,5 ponto nas outras decisões do ano.

Ao ver um cenário também bastante cauteloso do BC na condução da política monetária, Clayton Calixto, especialista de portfólio da Santander Asset Management, acredita que a curva de juros “já andou muito”, especialmente após a intensificação da queda das taxas desde a semana passada. “Não vemos prêmio na parte curta da curva”, diz o profissional, ao destacar o cenário da casa de um ciclo de cortes mais cauteloso, com uma taxa de 12% em dezembro.

Calixto diz ver um momento de “euforia” nos juros de curto prazo, mas ressalta que o movimento não é apenas no Brasil e que é normal que os agentes “superestimem” os ciclos de redução de juros em seu início. “Vemos muito mais cortes precificados na curva do que os bancos centrais estão dispostos a entregar e esse não é um fenômeno apenas do Brasil, mas em outros emergentes”, nota o profissional ao citar as curvas de juros do Chile, do México e da Hungria.

Neste momento, a Santander Asset revela ter posições aplicadas – que são as que apostam na queda das taxas – em juros de prazo intermediário, de cerca de três anos, e não tem exposição no momento a juros reais (NTN-Bs). (Colaboraram Matheus Prado e Arthur Cagliari)

05.jun.2023
Otimismo com ativos brasileiros ganha força – Valor, 05 de junho de 2023

Otimismo com ativos brasileiros ganha força | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

PIB e cenário de desinflação dão impulso a visão mais positiva para câmbio, juros e bolsa

Por Victor Rezende, Gabriel Roca e Matheus Prado — De São Paulo

O otimismo tomou conta do mercado doméstico nos últimos dias. A sensação de que o crescimento econômico será mais forte que o esperado e uma dinâmica favorável do lado da inflação, já que a agropecuária foi a grande força no primeiro trimestre, deram a senha que faltava para uma nova onda positiva guiar os ativos financeiros brasileiros e sustentar apostas mais construtivas no curto prazo no câmbio, nos mercados de juros e também no Ibovespa. Antes disso, o arcabouço fiscal tinha dado sua contribuição nas últimas semanas, ajudando a reduzir riscos.

Com esse cenário em mãos, foi possível observar o termo “Goldilocks” se espalhar em algumas análises no mercado na sexta-feira. “Goldilocks” (inspirado no clássico infantil “Cachinhos Dourados”) se refere a um ambiente no qual a economia mantém um crescimento sustentável, não há pressões inflacionárias e a taxa de desemprego é baixa. Como consequência, ao menos no curto prazo, a aposta entre participantes do mercado é de um bom desempenho dos ativos brasileiros. Não por acaso, nas sessões de quinta e sexta-feira, o câmbio se apreciou, com o dólar novamente abaixo de R$ 5; os juros de longo prazo caíram; e a bolsa subiu.

“O resultado final do PIB confirma essa teoria de ‘Goldilocks’: o consumo doméstico e os setores sensíveis à política monetária estão desacelerando, o que é positivo para a inflação. E esses setores vão reagir quando as taxas caírem”, diz o responsável pela área de mercados da tesouraria do Santander Brasil, Sandro Mazerino Sobral, em relatório a clientes.

Ele nota que a história dos ativos da América Latina tem sido “a melhor do ano” e que um dos motivos é, justamente, o nível dos juros na região. “No Brasil, a história é a mesma, mas temos outros ingredientes”, diz Sobral, ao apontar o fato de os ativos domésticos se saírem melhor recentemente. O sistema bancário bem capitalizado; o impacto das reformas estruturais implementadas desde 2016; e o poder do agronegócio e sua capacidade de disseminar o crescimento pelo consumo e pelos investimentos são os elementos listados pelo executivo ao defender um otimismo maior com o Brasil.

“Parte substancial da descompressão de prêmios de risco já terminou, o que significa que o mercado exigirá, gradativamente, dados sólidos para continuar a melhorar. Por outro lado, uma das minhas principais teorias sobre nossa visão positiva do Brasil se confirmou: o clima está mudando”, enfatiza Sobral.

Visão semelhante é defendida por Guilherme Foureaux, sócio e gestor macro da Truxt Investimentos, ao afirmar que tem uma visão positiva para os ativos brasileiros e avaliar que ainda há uma “boa janela” para que os de risco se recuperem, em especial no mercado de juros. “Não concordamos com a visão de que já temos muitos cortes de juros precificado”, diz. “Os fundamentos econômicos apontam para um corte de juros e o Banco Central vai dar início a um ciclo de forma responsável. Não será um afrouxamento monetário, mas um ajuste no nível de aperto.”

Foureaux defende que não é preciso trabalhar com juros reais em níveis tão elevados no momento. “Ainda existe uma preocupação fiscal, mas o arcabouço excluiu o risco de cauda. Um ciclo de ajuste do aperto monetário ainda não está totalmente precificado. Gostamos dos juros nominais e dos juros reais e temos posições menores no real e na bolsa”, diz.

“Estamos em um cenário que, lá fora, costuma ser chamado de Goldilocks. Tudo que está acontecendo está favorecendo o Brasil a ter menos juros, mais crescimento e uma inflação controlada. É a combinação perfeita para os ativos de risco terem uma boa performance, principalmente quando olhamos para os preços dos ativos, que estavam ‘amassados’ [desvalorizados]”, diz. Com o nível alto de juro real, a gestora espera que o ciclo de cortes na Selic comece em agosto ou setembro.

31.out.2022
Tovar, da Truxt: “Lula precisa apresentar o ministro da Economia o mais rápido possível” – Pipeline Valor, 30 de outubro de 2022

Tovar, da Truxt: “Lula precisa apresentar o ministro da Economia o mais rápido possível” | Mercado | pipelinevalor (globo.com)

Definição da linha econômica e relacionamento com Congresso darão o tom do novo governo

Por Maria Luíza Filgueiras — São Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva venceu uma acirradíssima eleição presidencial, voltando ao poder para seu terceiro mandato e marcando a derrota do atual presidente Jair Bolsonaro – o primeiro a não ser reeleito desde que essa possibilidade existe na democracia brasileira. No mercado financeiro, os ajustes de preços já vinham se pautando nas pesquisas eleitorais e no resultado do primeiro turno, mas ainda haverá volatilidade até que o político eleito abra finalmente o jogo sobre a linha econômica que vai seguir.

À frente de uma das maiores gestoras independentes do país, José Tovar, CEO da Truxt, conversou há pouco com o Pipeline sobre sua leitura deste domingo e do que está por vir.

Economia

“Hoje o Lula comemora a vitória e o mais rápido possível precisa apresentar o ministro da Economia e com isso sua política fiscal, que é o mais importante. Ambas as campanhas foram muito pouco esclarecedoras sobre o que os candidatos fariam na economia. Foram platitudes, conjuntos de promessas como isenção de IR, aumento de salário mínimo, quando sabemos que o budget é limitado.

O que temos ouvido é que ele viria com um ministro mais na linha política, de negociação, e montaria um time econômico embaixo desse ministro. Mas, diante de tanta pressão, não sabemos se é isso que ele vai fazer. Os nomes especulados são conhecidos, mas a decisão é do Lula e espero que ele a tome muito em breve, já que não tem mais o risco eleitoral e não tem porque adiar isso.”

Mercado

“A eleição do Lula não foi uma surpresa. Amanhã, na abertura do mercado, o que vai influenciar é se dólar abre forte no mundo, como abrem as bolsas internacionais. Não acho que haverá cavalo de pau nenhum no mercado local, mas um ajuste final conforme o vencedor e ainda com essa especulação grande sobre quem vai ser ministro da Fazenda.”

Congresso

“Lula pega um Congresso mais hostil. O resultado da eleição do Congresso foi muito mais para o Centro-Direita e bancada bolsonarista. Lula vai ter que usar sua habilidade e capital político para influir na presidência da Câmara. É um cargo estratégico. O que mudou no Brasil é que hoje o Congresso detém o controle do orçamento e está numa posição muito privilegiada, que nunca teve. Foi durante o governo Bolsonaro que o Congresso assumiu o controle do orçamento e não vai ser simples.

Mas Lula é habilidoso, vamos ver como lidará com isso. Vai ter forças contrárias, como os caminhoneiros, agronegócio, os evangélicos. Mas ele já se mostrou um político resiliente, ganhou a eleição contra o incumbente, o que é difícil no Brasil com o incumbente com mais recursos. Claramente foi uma eleição definida pela rejeição.”

Transição

“Já está se desenhando uma transição harmônica de poder. Não digo colaborativa, mas pacífica. Em poucas horas, os líderes internacionais já se manifestaram, o ministro do TSE, o presidente da Câmara, e me parece que esse ritmo de respeito à democracia vai permanecer. Havia um medo em relação a isso, mas o establishment já mostrou seu compromisso com a democracia.”

Tovar lembra que, em relação ao povo brasileiro, o político também encara um desafio, mesmo já eleito. “A eleição foi muito apertada. O país sai muito dividido dessa eleição e Lula vai ter que usar a habilidade política dele para acalmar o país.”

04.ago.2022
‘BC sinaliza alta de 0,25 ponto, mas com desejo de parar’, diz Truxt – Valor, 04 de agosto de 2022

‘BC sinaliza alta de 0,25 ponto, mas com desejo de parar’, diz Truxt | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Para Arthur Carvalho, da Truxt, Copom manteve porta aberta para mais uma alta, mas deixou possibilidade de, caso dados melhorem, encerrar ciclo com o juro nos atuais 13,75%

Por Lucinda Pinto — De São Paulo

Ao comunicar sua decisão de subir a Selic em 0,5 ponto percentual, o Copom manteve a porta aberta para mais uma dose de alta, agora de 0,25 ponto percentual. Mas deixou na mesa a possibilidade de, caso os dados melhorem, encerrar o ciclo com o juro nos atuais 13,75%, porque teme que o efeito defasado da política monetária tenha um impacto forte demais daqui para frente. Essa é a leitura do economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho. “Parece que a porta está aberta, mas que o desejo é de parar”, afirma.

Para ele, ao expressar esse desejo, o BC está demonstrando menos preocupação com a piora das expectativas de inflação e também com a dinâmica da inflação subjacente, principalmente no setor de serviços, que segue muito resistente. “Desacelerar inflação de serviços demora, é custoso. E ele já está parecendo que, se der um sinal [positivo da inflação], ele para”, diz

O cenário base do economista é de que o BC suba o juro em mais 0,25 ponto e pare. “Mas eu acho que o cenário de 14,25% é bem próximo”, diz. Para o IPCA, sua projeção é de uma taxa de 7% neste ano e de 5,3% para 2023.

Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista:

Valor: Qual foi a mensagem do comunicado do Copom?

Arthur Carvalho: O Copom deixou a porta aberta para subir mais uma [vez]. Ao mesmo tempo em que ele se protegeu um pouco, quase que num desejo de que ele possa parar, ao dizer que o ciclo está muito avançado, de que ele vai reagir aos dados. Ele sinalizou que, se o cenário continuar assim, ele pode subir o juro em mais 0,25 ponto, mas, se melhorar, ele para. Parece que a porta está aberta, mas que o desejo é de parar. Talvez não fosse o que eu faria, eu sinalizaria mais uma alta de 0,25 e não expressaria esse desejo de, se puder parar, porque mostraria um comprometimento maior em ancorar as expectativas.

Valor: Por que o BC tem o desejo de parar o ciclo? Há uma preocupação com o efeito da alta que já foi realizada?

Carvalho: Acho que ele acha que já subiu muito, e subiu rápido. E como a política monetária é muito defasada, ele está com medo disso bater muito forte. Se não tivesse os estímulos fiscais, que teremos agora em agosto, setembro e outubro, esse receio seria válido. Mas, diante desse estímulo, acho que isso parece mesmo mais um desejo.

Valor: Quando o Copom expressa que deseja parar, ele enfraquece o efeito da comunicação sobre as expectativas?

Carvalho: Eu acho que, na margem, sim. Não é dramático, como se anulasse, mas mostra que ele quer parar, que ele está forçado a continuar o ciclo. E mostra um pouco menos de preocupação. Eu acho que, dado que as expectativas estão se movendo ainda, o BC deveria estar mais preocupado. E ao expressar esse desejo, ele parece estar menos preocupado do que eu estou.

Valor: A sua preocupação reside em que exatamente, à surpresa da inflação vinda da resiliência da atividade? Ou tem mais a ver com o fiscal?

Carvalho: É uma combinação das duas coisas. O primeiro semestre foi bem mais forte [em atividade] e ainda mostra algum fôlego no terceiro trimestre. E, em cima disso, você ainda vai ter o estímulo fiscal. Quando você olha para os indicadores subjacentes de inflação, alguns começaram a ceder, mas a maioria está próxima do ‘high’. Óbvio que não precisa esperar a inflação cair toda, senão você estará apertando demais. Mas ainda tem sinalizações de que a inflação pode se manter elevada por um período prolongado. A inflação de serviços piorou muito e desacelerar inflação de serviços demora, é custoso. E já está parecendo  que, se der um sinal [positivo da inflação], ele para. Ele mostra menos preocupação.

Valor: A resiliência da atividade pode refletir que a política monetária está menos efetiva?

Carvalho: Não, acho que nisso vou dar crédito ao governo. Quando você olha 2014 e 2015, quando teve um ciclo de alta relevante, a política monetária era muito menos efetiva porque tinha crédito subsidiado para todos os lados. Acho que o problema não é esse. Acho que essa resiliência tem a ver com o fato de que o mercado subestimou o efeito da reabertura da economia, principalmente sobre o setor de serviços. Foi mais importante a última onda ter acabado e a vida normal ter voltado para o setor de serviços do que parecia para a gente. E isso criou um ‘momentum’ positivo para a economia, uma inércia. E a outra coisa são os estímulos. E agora vai entrar mais auxílio. Mas não é como crédito subsidiado, que entrava direto na política monetária.

Valor: Existe a chance de o BC ter que ir ainda mais longe com o ciclo do que ele sinalizou?

Carvalho: Eu acho que sim, tem esse risco. É super real o risco de, ao chegar em setembro, a economia não tenha desaquecido, a inflação não tenha cedido, as expectativas continuem desancorando, e ele tenha que, mais uma vez, repetir o ‘statement’ de hoje [ontem]. A única diferença é que ele diria que faria uma magnitude igual ou menor, e ter que deixar a porta aberta mais uma vez. Lembre-se que este Banco Central já chegou a sinalizar que iria parar esse ciclo, e acabou dando 2 pontos acima. A história deles [do comitê] é que, quando chega na hora H, se os dados não deixarem, eles reagem, mas com essa hesitação.

Valor: Qual é o seu cenário base para o juro?

Carvalho: Que o BC suba o juro em mais 0,25 ponto e pare. Mas eu acho que o cenário de 14,25% é bem próximo. É muito mais possível, na minha cabeça, do que o cenário de 13,75%.

12.maio.2022
Mercado vê Selic alta durante mais tempo – Valor, 12 de maio de 2022

Mercado vê Selic alta durante mais tempo | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Expectativas para o IPCA voltam a aumentar em 2022 e 2023

Por Victor Rezende, Marcelo Osakabe e Felipe Saturnino — De São Paulo

O processo de deterioração das expectativas de inflação continua a todo vapor e mostra que o caminho para a política monetária será árduo e exigirá uma taxa de juros que se mantém em níveis elevados por período prolongado. Se antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pesquisa do Valor com projeções de economistas indicava um IPCA de 7,7% neste ano e de 4% em 2023, agora a mediana das 80 projeções coletadas aponta para o índice de preços em 8,4% em 2022 e em 4,2% no próximo ano.

O resultado foi obtido em novo levantamento, feito pelo Valor ontem, logo após a divulgação da leitura de abril do IPCA. E, desta vez, o cenário para a política monetária se mostrou ainda mais restritivo à frente. Embora os economistas continuem a esperar a Selic em 13,25% no fim do ciclo, previsto para junho, o ponto médio das estimativas agora aponta para o juro básico em 9,5% no fim de 2023, e não mais em 9%. O cenário, portanto, se desenha com taxas em níveis bastante restritivos e por um período cada vez mais longo.

Aos poucos, as taxas de juros dos contratos de DI têm se ajustado a esse ambiente. Ontem, na esteira do IPCA de abril em 1,06%, número ligeiramente acima do esperado, e da inflação também mais pressionada nos Estados Unidos, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2023 subiu de 13,255% para 13,325%, enquanto a do DI para janeiro de 2024 saltou de 12,865% para 13,025% no fechamento.

“Está quase virando um ato de fé esperar a desaceleração da inflação”, diz a economista-chefe da Panamby Capital, Tatiana Pinheiro, que projeta o IPCA em 9% no fim deste ano e em 5,3% em 2023. “Estamos esperando isso desde janeiro e até agora não aconteceu. Não dá para falar que a inflação não pode ser ainda mais alta. A maior probabilidade é que ela fique abaixo da inflação de 2021, de 10,1%, até porque temos um ciclo gigante de aperto monetário, mas não vai ser super abaixo.”

Pinheiro observa que o Banco Central, desde o início do ano, tem dado sinais de que deseja encerrar o ciclo de elevação da Selic diante dos níveis elevados da taxa básica de juros no momento. “Mas a inflação não dá brecha para que esse fim de ciclo chegue e, pelas projeções à frente, não vai dar tão cedo”, afirma. A economista da Panamby projeta a Selic em 13,25% no fim do ciclo, ao esperar mais um aumento de 0,5 ponto na taxa em junho.

Ela, contudo, não descarta que o BC tenha que estender ainda mais o ciclo de elevação dos juros e avalia que o consenso pode migrar para projeções cada vez mais altas para a Selic no fim de 2023. Pinheiro espera que o juro básico comece a ser reduzido no próximo ano, mas em um ritmo bem mais lento. Enquanto o consenso aponta para a Selic em 9,5% em dezembro de 2023, a economista projeta a taxa em 11%.

Estimativa semelhante é adotada na Truxt Investimentos, com a Selic em 11% no fim do próximo ano, na medida em que a qualidade “excepcionalmente ruim” da inflação coloca o BC em uma situação complicada, aponta o economista-chefe da gestora, Arthur Carvalho.

“Sou simpático ao argumento da autoridade monetária de que muito já foi feito em termos de juros e que é preciso ver o efeito dessa alta na segunda metade do ano. Por isso, entendo que o Copom vai encerrar o ciclo em 13,25%. Só que, como isso não é suficiente para trazer a inflação de volta à meta ano que vem, eles precisarão carregar esse nível por mais algum tempo e só conseguirão começar a cortar a Selic em meados de 2023”, afirma.

O economista da Truxt se mostra mais preocupado, no momento, com a disseminação da alta de preços na economia, e não com o nível em que a inflação está. Em abril, a difusão do IPCA avançou para 78,2%, maior patamar desde janeiro de 2003. “Sabemos que a inflação de hoje ocorre por conta de choques como o de energia, mas os efeitos secundários que vemos hoje são de choques que já aconteceram. Ainda não estamos contabilizando os choques que ocorrem neste momento”, diz.

No levantameno feito pelo Valor ontem, embora a mediana das 83 estimativas coletadas para a Selic no fim do ciclo indique a taxa em 13,25%, é preciso apontar que uma ala do mercado vê o juro básico em 13,75% ou mais no fim do ciclo, com uma extensão do aperto monetário para a reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

A situação peculiar da inflação, que se mostra “bastante rígida”, levou o Fator a esperar que a Selic chegue a 14% no fim do ciclo, revela o economista-chefe do banco, José Francisco de Lima Gonçalves. “Acho que o BC está mais disposto a não parar o aperto em junho. Na ata anterior, o sinal era de desaceleração; a ata de ontem [terça-feira] sinaliza que ele vai andar mais no processo de aperto”, diz.

Para ele, por mais que o BC aponte que não há um viés, “tem uma tendência de adaptação”. O economista, inclusive, nota que o colegiado tem se adaptado às surpresas inflacionárias “e imagino que vão se adaptar mais uma vez”.

O Fator, inclusive, projeta uma inflação bastante pressionada, de 9,5% neste ano, e de 5,2% em 2023, ao observar que a taxa de câmbio deve se depreciar diante de um cenário mais restritivo para as condições financeiras globais, o que pode levar a novos aumentos no diesel, na gasolina e no gás. “Os serviços também seguem altos. Então, temos esses vieses de inflação para cima e eu não consigo ver a economia fraca ajudar tanto a inflação a ficar mais baixa”, afirma.

O economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, dá ênfase, em especial, a diferenças entre o atual ciclo e a elevação de juros vista em 2015 e 2016. “Lá, o mercado de trabalho mostrava sinais de fraqueza. Agora, vemos um mercado de trabalho que ainda não apresenta esses sinais. Da ótica inflacionária, a percepção é de uma inflação mais alta e justamente de uma parte conhecida por ter um caráter mais inercial.”

Cardoso pontua que a inflação de serviços deve desacelerar quando a atividade econômica arrefecer, já que o mercado de trabalho tende a ficar menos aquecido nesse cenário. “Mas se a política monetária está com juros lá em cima e o governo mantém a demanda mais aquecida, isso faz a inflação de serviços ganhar fôlego extra devido a esse impulso extra na demanda”, diz o economista, para quem o IPCA deve ficar em 7,9% neste ano, com a Selic em 13,25% no fim do ciclo e em 9,5% no fim de 2023.

Na avaliação do economista Helcio Takeda, da consultoria Pezco, os problemas do lado da produção, que dominaram as preocupações em 2021 e no começo deste ano, transbordaram e agora também são visíveis no setor de serviços, cuja inflação já roda perto de 7% em 12 meses.

“Os efeitos secundários das altas dos [preços] administrados devem continuar contaminando a inflação ainda em 2023”, diz Takeda, que projeta o IPCA do próximo ano em 5,1%, acima do teto da meta (4,75%). O economista lembra que, no processo de desinflação de 2016 e 2017, a dinâmica dos preços demorou para melhorar mesmo diante de uma recessão severa. “Como a perspectiva para a atividade esse ano é melhor, isso aumenta o desafio do BC de fazer a inflação voltar à meta”, observa o profissional.

04.maio.2022
Copom deixa porta aberta para continuar subindo juros e mercado se divide sobre até onde a Selic vai – InfoMoney, 4 de maio de 2022

Copom deixa porta aberta para continuar subindo juros e mercado se divide sobre até onde a Selic vai – InfoMoney

Por Mitchel Diniz

Autoridade monetária sinaliza com mais uma elevação em junho, mas não indicou desfecho para o ciclo de aperto monetário

O desejo de encerrar o ciclo de aperto monetário em maio chegou a ser expressado de forma enfática pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Mas a mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom), no comunicado que acompanhou sua última decisão, frustrou essa expectativa, apontando para uma nova alta da Selic em um próximo encontro. Ou seriam novas altas?

“A comunicação tentou se desamarrar de um compromisso com uma taxa a frente e se amarrar com um compromisso de trazer a inflação de volta à meta e garantir ancoragem de expectativas ao redor da meta”, afirmou Mariana Dreux, gestora da Truxt Investimentos, durante live do InfoMoney.

A decisão da reunião, em si, não surpreendeu, justamente porque cumpriu com o que havia sinalizado no encontro anterior. O Copom elevou os juros básicos da economia em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, a maior taxa em mais de cinco anos. Algumas casas acreditavam que o ajuste desta reunião de maio seria o último e até previam uma redução de juros ainda 2022.

“Por tudo o que está sendo expressado pelo Copom, por todo o cenário externo e interno, não vejo essa possibilidade muito prática para o BC este ano”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

No texto do comunicado que acompanhou a decisão, o Copom afirmou que o ambiente externo seguiu se deteriorando e as pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram, com uma nova onda de Covid-19 na China. A elevação de juros em economias desenvolvidas aumentam as incertezas e geram volatilidade adicional para os países emergentes.

“A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente”, diz o texto. Com essa justificativa, a autoridade monetária apontou para um novo ajuste, em menor magnitude, na próxima reunião do Comitê, marcada para os dias 14 e 15 de junho.

“O tom do Copom foi até mais hawkish que o mercado esperava. Ele não sinalizou ajustes apenas na próxima reunião, deixou as portas para ir além, ao dizer que o Comitê vai perseverar em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem de expectativa em torno de suas metas”, afirma Cruz. Ele aposta em uma alta de 0,5 ponto em junho, com chances de encerrar o ciclo de aperto monetário em 13,25%. “Mas é preciso observar a ata da reunião, para ver se há o risco de ir além”.

Mercado dividido após decisão

A XP não esperava que as altas da Selic terminassem agora e apostava numa taxa de 13,75% ao final do ciclo de aperto, projeção que, por enquanto, foi mantida. Caio Megale, economista-chefe da casa, acredita que poderá haver mais dois ajustes de 0,5 ponto ou até mesmo uma outra alta de 1 ponto percentual na próxima reunião.

“A atividade econômica está até mais forte do que se imaginava, então existe demanda final para se repassar preços, já que os custos de produção continuam em alta. A projeção da XP para inflação este ano é de alta de 7,40%, mas vemos riscos de chegar até 9% facilmente”, afirma Megale. As projeções de inflação do Copom, atualmente, situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023.

Os cenários do Copom têm sido bem mais otimistas do que os traçados pelo BNP Paribas. O banco espera 10% de inflação para 2022 e 5% para inflação de 2023. “Olhando para nossa persistência de inflação um pouco maior, acreditamos que o BC vai ter que fazer um pouco mais do que o comunicado mostrou”, afirma Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP.

Já Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, observa que, no comunicado, o BC não avaliou o balanço de riscos como altista. “Desta vez, preferiram ressaltar a volatilidade do balanço, indicando que podemos estar próximos do final do ciclo”, afirma. A Rio Bravo prevê que o Copom faça um último ajuste na Selic, na reunião de junho, elevando à taxa para 13,25%.

Essa também é a aposta da Necton e da Kínitro Capital. “A questão se centra na dinâmica inflacionária; se de fato a inflação no Brasil começar a recuar em 12 meses, já em maio teremos uma boa chance da curva de juros por aqui recuar”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton.

“Ainda existe uma chance desse incremento adicional de juros não acontecer na reunião de junho, caso ocorra uma surpresa para baixo de inflação. Mas acreditamos que esse cenário detém menor probabilidade”, afirma Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital.

Carla Argenta, da CM Capital, acredita que o Brasil terá uma taxa de juros acima de 13% daqui a 45 dias, quando o Copom se reunir novamente. A depender do desenrolar do cenário internacional, os ajustes podem não parar por aí.

“Vale lembrar que essa taxa de juros não tem mais impacto sobre a inflação de 2022, ela está mirando na inflação de 2023. Para o BC esse controle é extremamente necessário, uma vez que a inflação de 2021 já ficou muito acima do limite superior da meta e o mesmo deve acontecer em 2022. É importante para que a instituição mantenha a sua credibilidade”, conclui.

26.out.2021
Selic deve chegar a dois dígitos em 2022– Valor, 26 de outubro de 2021

Selic deve chegar a dois dígitos em 2022 | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Com deterioração fiscal, analistas veem taxa acima de 10%
Por Felipe Saturnino, Anaïs Fernandes e Victor Rezende — De São Paulo

O entendimento de que há uma mudança no regime fiscal e a forte deterioração das expectativas de inflação que teve início na semana passada devem levar o Banco Central não só a acelerar o passo do aperto monetário, como também a levar o juro básico a um nível maior no fim do ciclo de alta.

As projeções já tinham subido bem desde a última pesquisa do Valor, de 24 de setembro, quando a mediana das estimativas de 75 instituições financeiras e consultorias apontava para a Selic em 8,75% no fim do ciclo. Mas, até a semana passada, ainda eram poucas as casas que trabalhavam com um número de dois dígitos. Agora, a mediana de 89 analistas consultados ontem aponta para uma taxa de 10,5% no fim do ciclo.

Cerca de 74% das instituições e consultorias apostam que a Selic deve chegar a pelo menos 10% e, embora a faixa de 10,5% concentre, sozinha, mais projeções (22,5%), quase 27% das casas esperam que o juro básico chegue a pelo menos 11% em 2022.

Os economistas demonstram preocupação com a mudança na mediana das previsões do Boletim Focus para o IPCA de 2022 – horizonte predominante da política monetária atual -, que passou de 4,18% na semana anterior para 4,40% agora. A “violenta desancoragem” deve “machucar um bocado o modelo do BC, junto com o câmbio mais depreciado”, afirma Arthur Carvalho, economista-chefe da Truxt Investimentos.

“O movimento visto nas projeções do Focus foi o primeiro na direção de desancoragem das expectativas de inflação”, diz Paulo Val, economista-chefe da Occam. A gestora trabalha com uma Selic de 11,25% no fim do ciclo, a ser atingida no primeiro trimestre de 2022.

Aguardar até a reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom) para ajustar a dose de alta para 1,5 ponto percentual “seria esperar demais”, avalia Val. Ele espera duas elevações dessa magnitude neste ano.

“Consequentemente, [o Copom] também tem que buscar um nível final de juro maior para se contrapor à deterioração dessas expectativas e aos efeitos do câmbio. Isso seria uma mensagem incisiva e inequívoca de que ele [BC] irá perseguir a meta e fazer o que for necessário, como sua comunicação tem deixado bastante claro”, diz Val. Para a Occam, o IPCA atingirá 4,6% em 2022, perto do teto da meta (5%).

Diante do novo pano de fundo fiscal, o UBS BB aumentou, na semana passada, a projeção de Selic ao fim do ciclo de 9,25% para 10,25%, em uma trajetória que considera dois apertos de 1,5 ponto e uma alta de 1 ponto no primeiro Copom de 2022. “Flexibilizar o teto, que é uma maneira delicada de dizer que o teto será furado um pouco, incorre em mais custos para a política monetária”, diz o economista-chefe, Alexandre de Ázara.

Para ele, o risco, caso o BC não reaja no atual cenário, é o país entrar em dominância fiscal, isto é, quando a alta de juros se torna contraproducente para combater a inflação. “Acho que a gente está longe disso, mas quando a política fiscal tira o pé, ela deixa mais trabalho para a política monetária.”

Na visão de Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore & Associados, do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, se a autoridade monetária deixar claro que fará “o que for preciso” para colocar a inflação na meta, e não só nas ações, mas também no seu comunicado, o país pode escapar da dominância fiscal. “Vimos um salto muito forte no Focus. O BC não pode olhar para isso e fingir que não aconteceu nada”, diz a economista.

Segundo Magalhães, a consultoria já via sinais de um início de desancoragem das expectativas porque a média das projeções para o IPCA em 2023 do Focus rodava acima da mediana e, assim, projetava Selic a 9,5% no início de 2022.

“Mas teve esse choque na semana passada, em que ficou muito claro que nossa âncora fiscal não existe mais. Neste caso, mudamos a visão e o BC vai ter de agir mais rápido, com duas altas de 150 pontos-base [1,5 ponto], deixando em aberto o que vai fazer no ano que vem, para verificar o que vai acontecer daqui até lá”, afirma. Para ela, fugir de uma Selic de dois dígitos parece improvável.

Caso se concretize a dose mais agressiva de ajuste, de 1,50 ponto, em meio a um nível de incerteza tão elevado, o Copom deverá deixar os próximos passos em aberto e optar por manter os graus de liberdade, observa Carvalho, da Truxt. A gestora espera duas elevações de 1,50 ponto na taxa, com a Selic em 11% no fim do ciclo.

Val, da Occam, diz que o BC pode até parar em 11,25% para observar, mas o risco permanece assimétrico para que o Copom tenha de continuar apertando ainda mais a política monetária.

24.mar.2021
Inabilidade de escolher e as suas consequências – Valor, 24 de março de 2021

Inabilidade de escolher e as suas consequências | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Há tempo para que as escolhas certas sejam feitas, por meio de reformas fiscais mais bem planejadas e duras
Por Arthur Carvalho

O dilema fiscal brasileiro não está de novo no centro do debate porque há uma nova crise, mas porque é profundo e estrutural e não há saída fácil desse imbróglio. Enquanto movimentos mais estruturais e profundos não forem feitos, nunca abandonaremos essa eterna angústia de eminência de uma crise toda as vezes que o cenário externo se deteriorar, ou a classe política decidir que é necessário gastar mais.

A pandemia e o seu consequente custo para o governo só exacerbou o problema, que o próprio governo já tentava atacar com as PECs enviadas no final de 2019 para reduzir a rigidez das despesas.

Quando no final do ano passado, aqui nesse espaço, alertamos para o dilema fiscal à frente dado o estado da pandemia e a necessidade de se estender o auxílio emergencial, o governo garantia que isso não ocorreria. No entanto, a realidade se impôs e uma extensão do auxílio foi aprovada até o mês de Junho, por enquanto. O governo lutou para que houvesse algumas contrapartidas fiscais para que pelo menos no médio prazo algum congelamento de gastos compense mais essa despesa. No entanto, a dinâmica política entregou contrapartidas pequenas, na nossa opinião.

O dilema fiscal certamente não é sobre R$ 30 bilhões ou R$ 40 bilhões a mais de gastos, mas sim sobre a incapacidade de os poderes fazerem escolhas diante do cenário que se impõe. Em 2020 foram gastos mais de R$ 450 bilhões acima do teto, portanto, certamente gastar apenas 10% desse valor em 2021 não deveria ser um problema. No entanto, os agentes que analisam a solvência do Brasil se preocupam não com o valor em si, que de fato é pequeno, mas sim com as preferências reveladas pelos
agentes públicos sobre a trajetória fiscal.

Como o economista Felipe Salto do IFI (Instituto Fiscal Independente) vem sinalizando, há inúmeras iniciativas que poderiam quase que compensar inteiramente esta nova rodada do auxílio. Por exemplo, caso os salários dos militares não fossem reajustados como planejado se economizariam R$ 7 bilhões, mais R$ 2,5 bilhões poderiam ser economizados caso concursos fossem adiados. Subsídios ainda dentro do teto também poderiam ser revertidos economizando-se quase R$ 14 bilhões. Ou seja, não se pode dizer
que não há de onde cortar, mas sim que se escolhe não cortar ao mesmo tempo que se escolhe gastar mais. Existem ainda outras desonerações que poderiam ser desfeitas que não afetariam o cálculo do teto, mas certamente beneficiariam a dinâmica da dívida.

A incapacidade de fazer escolhas difíceis sinaliza de alguma forma que há uma elevada probabilidade de uma extensão do auxílio emergencial além de junho. Afinal de contas, o nível de desemprego que, assumindo a taxa de participação em níveis pré-pandêmicos, está hoje acima dos 20%, dado as perspectivas para a economia ao longo dos próximos meses, dificilmente estará muito abaixo disso. Portanto, mesmo que a campanha de vacinação esteja finalmente avançando, é pouco provável que a economia, e muito menos o mercado de trabalho que reage de forma muito lenta, estejam em níveis que dispensem algum tipo de extensão do auxílio, principalmente para a classe política que tende a ser mais sensível a essas demandas.

Além de aumentar o prêmio de risco fiscal de longo prazo, essa política fiscal frouxa, forçou o Banco Central a mudar a política monetária para compensar tais escolhas, como de fato historicamente sempre foi o caso no Brasil.

Até a passagem da emenda constitucional do teto de gastos o Brasil tinha um mix de políticas disfuncionais, com uma política fiscal sempre expansionista e uma monetária muito contracionista, com juros muito acima dos seus pares. Ao não fazerem escolhas compensatórias para gastos que são de fato necessários, a classe política parece não entender que está possivelmente devolvendo o Brasil para seu equilíbrio pré-teto de gastos.

Dado que o nível de juros é próximo do mínimo histórico, que são claramente incompatíveis com uma política fiscal mais frouxa, não só o Banco Central terá que subir juros a um passo mais rápido do que antecipava, mas terá que ir além do ajuste parcial que hoje planejam.

A inabilidade de fazer escolhas difíceis para a classe política pode estar revertendo importantes avanços conquistados pela sociedade brasileira nos últimos anos. O resultado dessa inabilidade será certamente uma combinação de políticas públicas subótimas, nas quais a política fiscal está provavelmente excessivamente expansionista, e certamente mal focalizada, devido à captura do estado pelos grupos de interesse.

Enquanto isso, a política monetária que impacta toda sociedade através do crédito, dentre outros canais, estaria excessivamente contracionista. Óbvio que isso não está sacramentado. Ainda há tempo para que as escolhas certas sejam feitas, por meio de reformas fiscais mais bem planejadas e duras, que possam demonstrar que, diante do dilema do teto de gastos, a classe política seja capaz de fazer as escolhas certas e manter as importantes conquistas dos últimos anos.
Arthur Carvalho é economista-chefe da Truxt.

18.mar.2021
‘Copom terá de levar juros para o nível neutro’ – Valor, 18 de março de 2021

‘Copom terá de levar juros para o nível neutro’ | Finanças | Valor Econômico (globo.com)

Para Arthur Carvalho, da Truxt, decisão do Copom de levar Selic a 2,75% foi “apropriada”
Por Victor Rezende — De São Paulo

Foi apropriada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros
em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, e já indicar um novo aumento de mesma magnitude em maio. É o que avalia, em entrevista ao Valor, o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, para quem,
contudo, o cenário continua bastante desafiador, especialmente em relação à inflação. Além de trabalhar com o IPCA em 4,9% no fim deste ano, a gestora carioca projeta a inflação em 4,0% em 2022, nível que já supera o centro da meta.

Não por acaso, Carvalho aponta para a possibilidade de as expectativas de inflação de 2022 começarem a se afastar do nível de 3,5%. Uma desancoragem “muito séria”, na avaliação do economista, poderia ser considerada uma mudança significativa no cenário básico do Copom, já que o colegiado enfatiza, no documento, que sua estratégia de normalizar parcialmente a política monetária é compatível com o cumprimento da meta no ano que vem.

“O que a PEC fez foi permitir o cumprimento do teto juridicamente, mas, de fato, ele está sendo rompido”

O economista da Truxt, porém, diz ter achado “meio confuso” o ajuste parcial explicitado pelo Copom no documento. “Dá a entender que eles tentarão deixar a política monetária ainda em nível estimulativo. Acredito que o Copom vai se surpreender e terá de levar os juros para o nível neutro ou, até mesmo, para um campo levemente contracionista”, afirma.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Valor: Foi acertado já começar o ciclo com uma alta de 0,75 ponto?

Arthur Carvalho: Foi apropriado. Apesar de eu ter achado que o BC não entregaria um movimento mais agressivo que 0,50 ponto, foi uma decisão acertada. Vejo como algo positivo. O Copom deixou bem claro que, a não ser que algo aconteça até a próxima reunião, haverá um outro aumento de 0,75 ponto e isso é importante até mesmo para evitar que o mercado ache que ele terá de acelerar o passo. O Copom está tentando ancorar as expectativas do mercado.

Valor: No comunicado, o Copom enfatiza que se trata de um ajuste parcial da política monetária

Carvalho: Achei isso meio confuso porque dá a entender que eles tentarão deixar a política monetária ainda em nível estimulativo. Acredito que o Copom vai se surpreender e terá de levar os juros para o nível neutro ou, até mesmo, para um campo levemente contracionista. Nessa parte, acredito que eles estão com um cenário base que precisará ser corrigido na medida em que o cenário de inflação pior no ano que vem for se materializando, assim como um ambiente fiscal também pior. O Copom vai ter que fazer algo maior do que aquilo que está prevendo hoje. Antes da reunião, já tínhamos um cenário mais agressivo do que o consenso e projetávamos a Selic em 5,50% no fim do ano. Talvez, agora, possa chegar a 6%, mas seria um ajuste fino em relação ao nosso cenário base.

Valor: O Copom aponta para mais uma alta de 0,75 ponto em maio caso não haja uma mudança significativa no cenário. O que poderia causar isso?

Carvalho: Uma desancoragem muito séria das expectativas de inflação de 2022, por exemplo. Se o consenso do Focus migrar para 4%, por exemplo, isso pode ser considerado significativo pelo Copom. Eles chamam a atenção, no comunicado, para o fato de que, apesar dos choques, as expectativas de 2022 estão ancoradas. Seria uma mudança significativa se isso se perder. Uma alteração mais profunda no arcabouço fiscal também seria algo significativo, mas não acho tão provável assim nos próximos 45 dias.

Valor: As expectativas de inflação de 2022, que estão em 3,5%, podem começar a desancorar?

Carvalho: Esperamos inflação de 4,9% neste ano e de 4,0% em 2022. Como muitos preços não subiram este ano, isso pode acabar pressionando a inflação em 2022. Além disso, tem o fator da inércia. Existe, sim, uma possibilidade razoável de as expectativas de inflação de 2022 começarem a sair de 3,5%. Elas podem começar a desancorar. A mediana das projeções no Focus ainda está em 3,5%, mas a média já começou a subir e isso indica que os economistas já têm começado a mudar seus números.

Valor: O risco fiscal se mantém elevado mesmo após a aprovação da PEC emergencial?

Carvalho: O BC dizia claramente que, em seu cenário básico, o teto de gastos deveria ser cumprido de fato. O que a PEC fez foi permitir o cumprimento do teto juridicamente, mas, de fato, ele está sendo rompido. O gasto está
crescendo acima do estimado anteriormente para o teto. Independentemente de coisas positivas que estão no projeto, para o BC, da maneira como ele caracterizou, houve uma mudança para pior. O fiscal ficou mais frouxo. Além disso, não tenho certeza de que o BC tem a clareza de que o furo no teto pode não se limitar a R$ 44 bilhões. Se chegarmos a junho com uma situação ainda bastante delicada na pandemia e com o mercado de trabalho fragilizado, o que é bem possível, pode ser que se declare um estado de calamidade e se estenda o auxílio emergencial além de junho. Eu não acho que a incerteza em torno da questão fiscal foi reduzida por causa da PEC. E isso está ligado às condições do mercado de trabalho como um todo. Dificilmente alguém consegue dizer que em
junho não teremos mais necessidade de fazer nada. É só lembrar que, em dezembro, tanto o governo quanto o próprio BC diziam que o cenário base era não ter mais nada de auxílio neste ano. O grau de incerteza é parecido.

Valor: O Copom voltou a dar ênfase à incerteza sobre o ritmo de crescimento. O que é possível esperar para a atividade com o recrudescimento da pandemia?

Carvalho: Já tínhamos um número negativo no primeiro trimestre e o nosso medo é de que, com a implementação dos novos lockdowns agora em março, tenhamos um mês de abril mais fraco. O balanço de riscos para o
crescimento no segundo trimestre está bastante negativo. O processo de vacinação também é chave e faz diferença nos números devido ao impacto na mobilidade. Quanto mais lenta for a vacinação, pior será a nossa hipótese para a mobilidade e, como consequência, para o resultado do crescimento, principalmente no setor de serviços. No momento, projetamos uma queda de 0,2% do PIB no primeiro trimestre, seguida de uma contração de 0,8% no segundo trimestre. Para o ano, temos um PIB de 3,3%. Um fator, contudo, me deixa apreensivo neste momento. Lá no primeiro colapso de mobilidade, tivemos uma queda forte dos serviços, mas, depois de 30 dias, a indústria e o varejo começaram a ir bem. Dessa vez, como existem gargalos que foram formados ao longo dos últimos 12 meses,
é possível que o retorno da renda, com a volta do auxílio emergencial, redirecione o consumo para o mercado de bens, que deve ter uma oferta mais restrita.

Valor: Faz sentido a normalização monetária ter início com a atividade ainda enfraquecida?


Carvalho: A inflação deve continuar pressionada mesmo em um cenário de atividade fraca. Não vamos mais ter aquele espaço de desinflação que a pandemia abriu no ano passado. E, por isso, o BC vai ter de manter uma postura vigilante. Lá atrás, o BC olhou para a pandemia e conseguiu enxergar que ela era desinflacionária no primeiro momento. Isso permitiu a ele ter uma postura de acomodar os choques com uma política monetária expansionista. Neste momento, não dá para ter a mesma postura. O BC foi obrigado a começar um processo de normalização da política monetária. Já há um processo inflacionário em curso e, possivelmente, a segunda rodada de lockdowns pode ser mais inflacionária por causa desses gargalos na economia.

Valor: Já o Fed não parece preocupado com a inflação nos EUA…


Carvalho: O discurso de ontem foi bem claro de que eles precisam ver a inflação marginalmente acima da meta por um período para entender que os objetivos foram atingidos. Ainda não estamos vendo isso. É interessante olhar para a modelagem do Fed e ver que o núcleo de inflação roda em 2%, 2,1%, mesmo após um anúncio fiscal incrivelmente poderoso. Isso mostra que o Fed está ainda bastante paciente. O juro longo nos EUA pode continuar subindo, já que estava em nível muto baixo, mas a questão é a velocidade. Até mais importante é avaliar o juro real. Se a abertura dos juros for devagar e se o juro real não subir muito, isso não vai incomodar os emergentes.

18.dez.2020
Brazil faces hard spending choices in 2021 – The Economist, dezembro 2020

Brazil faces hard spending choices in 2021 (economist.com)

The poor received huge welfare payments during the pandemic. These may soon dry up

In the final days of a tight mayoral race in November in São Gonçalo, an unglamorous city across the bay from Rio de Janeiro, one of the candidates, a retired police officer known as Capitão Nelson, made his way down a street lined with supporters. The mood was euphoric. A maskless man with a bottle of sanitiser on a string around his neck stomped his feet to funk music and squirted the gel into the air “to kill the germs” of the rival party. Humberto Perez, a handyman, likes the captain “because he cares about poor people, just like the president”, Jair Bolsonaro. After work dried up in March a monthly payment from the federal government kept him from going hungry. “And the campaign gave me a free lunch,” he said, with a toothy grin.

The fact that some Brazilians are celebrating during a pandemic that has killed 180,000 of their fellow citizens is among covid-19’s many paradoxes. So is the reason for their cheer: that a right-wing, pro-market government has rolled out the biggest welfare programme in Brazil’s history. Before the pandemic, extreme poverty was on the rise. Nearly 1m families were on the waiting list for Bolsa Família, a conditional cash-transfer programme that the government had cut back after a recession in 2014-16. In March 2020 widespread hunger seemed imminent. Paulo Guedes, the economy minister, proposed to spend no more than 5bn reais ($1bn), 0.2% of the budget, to fight the pandemic.

But momentum began to build in Brazil’s Congress to provide a basic income to poor people. Realising that it risked looking miserly, the government announced that it would give monthly payments of 600 reais to 68m Brazilians, a third of the population. Single mothers got twice that. In September the government halved the benefit, called auxílio emergencial (emergency aid), but extended it until the end of 2020. Brazil’s fiscal response to the pandemic, which also includes job-retention schemes, adds up to more than 8% of gdp, among the highest for g20 countries and twice the average for emerging markets. Congress declared a “state of calamity” to allow the government to bypass a constitutional ceiling on spending.

But with public debt approaching 100% of gdp, the government now faces a moment of truth. The state of calamity ends on December 31st, and with it the auxílio. Brazil can do one of three things: chop welfare spending to pre-pandemic levels, breach the ceiling or enact fiscal reforms that would allow it to maintain both. The third choice is the best, but it is also the most difficult. Since a landmark pension reform in 2019, the government has done little to cut spending or improve its effectiveness.

The auxílio has been a remarkable success. For more than 7m informal workers who lost their jobs, it was a crucial safety-net. It tripled payments to 14m families who had received an average of 190 reais a month from Bolsa Família. The auxílio lifted 1m people out of extreme poverty (see chart) and kept another 15m from becoming poor. Fundação Getulio Vargas (fgv), a university, found that Brazil’s Gini coefficient, a measure of inequality, swiftly dropped from 0.55 to 0.49, which is a lot. Poverty and inequality are the lowest since fgv began tracking them in 1970.

Brazilians whose pockets were empty after years of low growth bought televisions and ovens. Millions opened their first bank accounts. The poor north-east experienced a construction boom. After a 9.7% contraction in the second quarter, the economy grew 7.7% in the third. It will shrink in 2020 by half as much as many economists had predicted.

Mr Bolsonaro’s approval ratings climbed, smoothing the way for an alliance with the centrão (big centre), a bloc of opportunistic centre-right parties in Congress. “The expectation of victory and power brings us together,” says Ricardo Barros, now the government’s whip. Centrão candidates were the biggest winners in the local elections. They included Capitão Nelson, who won an upset victory against his left-wing rival. He promised money for new clinics and more police.

That will be a hard promise to keep. The stimulus was a “huge dose of anaesthesia that numbed the pain of the pandemic”, says Marcelo Neri of fgv. On January 1st “it will wear off”. The unemployment rate of 14.6% is the highest it has ever been. People in the poorest half of households have lost 28% of their earnings. “Unwinding all the extraordinary support in the coming months could risk derailing the incipient recovery,” warns the imf. Millions could fall into poverty.

If Brazil tapers spending gradually, as other countries plan to do, it will breach the ceiling, which was enacted in 2016 to control rising debt. It limits growth in most federal expenditure to the previous year’s rate of inflation. Because 94% of the budget is eaten up by mandatory spending (chiefly pensions and salaries), little is left for investment and social programmes. In 2019 the government spent 30bn reais, or 0.4% of gdp, on Bolsa Família. The auxílio cost ten times that.

Some Brazilians think the ceiling is essential to prevent an eventual default. But Brazil’s debt is largely denominated in its own currency, which reduces that risk. If interest rates were to rise uncontrollably, the Central Bank could buy government debt. The cap matters more as a sign of commitment to reforms, says Arthur Carvalho of Truxt Investimentos, a hedge fund. “If you can’t cut anything in a mammoth state to fund an important social programme, you can’t make choices,” he says. The imf urges Brazil to keep the ceiling and make space for a more targeted benefit in 2021 by “swiftly” passing money-saving reforms. Brazil risks hyperinflation if it scraps the spending ceiling, warned Mr Guedes in an interview with The Economist.

Neither big reforms nor a change in the spending cap is in prospect, which means welfare spending is set to fall. The damage to the poor will be modest, Mr Guedes thinks. The beneficiaries of the auxílio “were alive before the pandemic”, he said. “They had informal jobs” cleaning houses or selling sweets on the beach. “If the economy recovers they’ll be back.” Mr Guedes is bullish about that. “We will end this year with zero net jobs lost in the formal labour market,” he predicts. “I challenge any country to beat our record.”

His boss is less relaxed. Mr Bolsonaro wants to launch a new programme, Renda Cidadã (Citizens’ Income), which would help more families than Bolsa Família, although fewer than the auxílio. But he has rejected proposals for how to pay for it. “I can’t take away from the poor to give to the poorer,” he said when Mr Guedes suggested trimming other programmes.

There are other ideas. Congress is considering an “emergency” constitutional reform that would curb public-sector pay and tax exemptions. This would free a bit of cash for welfare. More would be available if that reform were coupled with an amendment to make the spending limit more flexible during crises, suggests Monica de Bolle of the Peterson Institute for International Economics, a think-tank in Washington. “You could do this without spooking markets,” she says. But Congress signalled last week that it will discuss the emergency measures only in February at the earliest. Mr Guedes promptly said he would take a holiday.

The government and Congress could put off a reckoning by extending the state of calamity, using a second wave of covid-19 as its justification. Mr Guedes has hinted he might endorse that. It would merely postpone the choice between fiscal reform and welfare cuts. The auxílio “can’t last for ever”, says Carlos Jordy, a congressional ally of Mr Bolsonaro who attended Capitão Nelson’s rally. Mr Perez, the handyman, may learn painfully that there is no such thing as a free lunch.

Editor’s note: Some of our covid-19 coverage is free for readers of The Economist Today, our daily newsletter. For more stories and our pandemic tracker, see our hub

This article appeared in the The Americas section of the print edition under the headline “Awaiting their fate”