Boa relação entre retorno e risco em long biased – Valor , 27 de novembro de 2020
Recursos alocados em aluguel de ações e derivativos
Por Mônica Magnavita
Ao longo dos últimos três anos, quatro fundos long biased se destacaram por apresentar boa relação entre retorno e risco. Estratégias como a de reduzir ou aumentar a exposição comprada em Bolsa, aliadas ao uso de instrumentos de hedge, foram utilizadas por gestores dos fundos da AZ Quest, Truxt, Opportunity e Squadra para mitigar perdas e alavancar ganhos. O long biased, produto multimercados que permite ao investidor obter bons retornos tanto com a alta quanto a baixa da cotação das ações, dependendo da posição da carteira, passou por solavancos este ano, mas
tem demonstrado boa performance mesmo em momentos de crise, como a de 2020. A flexibilidade de gestão desses fundos, que podem alocar recursos em derivativos, aluguel de ações e venda a descoberto, atrai investidores dispostos a correr riscos para obter ganhos elevados.
O long biased (long significa comprado e biased, tendência) da Truxt, o Long Bias FIC FIM, obteve rentabilidade de 30,27% este ano, até 17 de novembro, resultado que chama a atenção quando comparado ao de qualquer outro indicador. O do CDI, por exemplo, foi de 2,52% no mesmo período. Com um suporte de 12 analistas de Bolsa, responsáveis pela escolha das empresas que compõem os portfólios dos fundos, o long biased da Truxt viu seu patrimônio crescer de R$ 2,5 bilhões em janeiro para R$ 7
bilhões em outubro.
O fundo tem posição líquida comprada em Bolsa, mas o percentual oscila de acordo com a estratégia do gestor. A aplicação inicial mínima é de R$ 20 mil. “Esse timing é a nossa expertise, já que o produto tem muita flexibilidade”, disse José Tovar, CEO da Truxt, empresa criada em 2017 e que hoje administra cerca de R$ 18 bilhões. “Temos uma série de instrumentos para fazer hedge ou operar em paralelo a posição net (líquida) comprada em bolsa. Usamos mercado de juros, de dólar e de
ouro. Quando se acerta nas posições e nos hedges a rentabilidade é fenomenal”, diz. Este ano, o fundo obteve ganhos com ações de empresas voltadas para o e-commerce, como Magazine Luiza e Mercado Livre, e de ativos financeiros, como B3, XP e BTG.
“Estamos animados com uma possível melhora da Bolsa refletindo o cenário internacional”, disse Tovar. Há, entretanto, riscos consideráveis no mercado nacional. O maior, segundo ele, é a questão fiscal.
Com um patrimônio de R$ 1,048 bilhão, o AZ Quest Top Long Biased FIC FIA, da AZ Quest, gestora independente criada em 2001e associada ao grupo Azimut desde 2015, tem, atualmente, exposição em ações de 85%. Hoje, o fundo conta com papéis de 15 empresas, distribuídas pelos setores de tecnologia, saúde (Intermédica e Hapvida), ecommerce e consumo (Natura). “Temos bastante flexibilidade para atuar; em um cenário otimista a posição comprada pode ir até 100%. Acima disso, podemos usar derivativos. Já em cenário pessimista, mantemos um mínimo de ações, além de exposição em derivativos, como os de opções e futuro para proteger a carteira”, diz Welliam Wang, gestor da AZ Quest. O fundo também pode investir até 20% em ações no exterior. “Em geral, compramos empresas brasileiras listadas fora, como Mercado Livre, XP e PagSeguro.”
Durante o período de eleições no Brasil, em 2018, o fundo operou alavancado com derivativos. “Vendemos as ações de menor Beta (menor volatilidade), como as de telecom, e compramos ações de Beta mais alto, como a de bancos, Petrobras, de empresas do setor aéreo e de construção”, disse. A estratégia contribuiu para que o AZ Quest Long Biased atingisse rentabilidade de 38,75% no ano, mais que o dobro do IBrX, de 14,42%, que serve de benchmark.
O Opportunity Long Biased FIC FIM foi criado em 2013 para atender à demanda de um produto com mais margem de manobra para alocar recursos, a fim de evitar riscos em Bolsa em períodos críticos. Com uma carteira que pode oscilar sua exposição em ações entre 20% e 120 %, o fundo normalmente opera na faixa que vai de 40% a 90% comprado em Bolsa. “Pequenas diferenças são importantes”, disse Luiz Constantino,
sócio-gestor do Opportunity. “Junto a isso, temos flexibilidade para ter posições em outros mercados, como o da Bolsa americana, de dólar e juros, embora não seja o foco.”
Desde o fim de outubro, a exposição é de cerca de 75% em ações de 25 empresas. Entre elas Via Varejo, BTG, Vale e BR Distribuidora, além de outras do setor energia elétrica e saúde. “ Temos trocado nossa exposição no país por uma posição maior na Bolsa americana.”