RTI SUGERE QUE BC NÃO VÊ MOTIVO PARA ELEVAR SELIC, MAS DEPENDE DE FISCAL – Broadcast 24 de setembro de 2020

Por Thaís Barcellos

Os boxes do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro foram as principais novidades do documento e indicam que o Banco Central não vê motivo para elevar a taxa Selic, mas segue dependente da manutenção do arcabouço fiscal, como a questão do teto de gastos, que ainda segue bastante incerta, afirma o economista-chefe da TRUXT Investimentos, Arthur Carvalho. Após a leitura do documento, Carvalho manteve a visão de que a taxa Selic deve voltar a subir no segundo semestre de 2021, terminando o ano que vem em 3,0%, mas admite que isso pode mudar se houver algum estresse na resolução dos problemas fiscais.

“Olhando a mensagem de inflação e crescimento, que são o norte da política monetária, o BC não vê motivo para subir os juros e por isso o forward guidance. Mas, apesar de os estudos indicarem necessidade de bastante estímulo monetário, o fiscal é determinante para seguir sua prescrição. Se o arcabouço fiscal não se mantiver, mesmo com a trajetória benigna de inflação, teria de mudar a perspectiva de política monetária.”

Carvalho destacou em particular dois boxes do RTI. O primeiro é sobre o auxílio emergencial, em que indica que está preocupado com o fim do benefício porque provavelmente não houve formação de poupança entre a população que ganhou a renda extra. “Então se acabar o auxílio, há risco para o consumo no primeiro semestre do ano que vem, o que requer política monetária acomodatícia.”

O outro estudo que chamou a atenção foi sobre a relação entre o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), componente dos IGPs que mede a inflação no atacado, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial para medir inflação ao consumidor. O economista destaca que o BC indica que há um repasse represado em alguns itens que têm correspondência entre os dois índices, como em combustíveis. Mas, por outro lado, avalia que esse repasse pode ser menor do que o usual devido ao grande hiato do produto. “Do ângulo que está olhando, reforça a mensagem dovish.”

Nas contas da TRUXT, há um risco de repasse de 0,20 ponto porcentual do IPA ao IPCA, excluindo os alimentos. Atualmente, a projeção para o IPCA em 2020 é de 2,30%. “Não é um risco irrelevante, mas não é um risco gigante”. Para 2021, a projeção é de 3,0%.

Carvalho ainda observa que o BC pode ser surpreendido pela inflação de curto prazo, dada a força dos preços de alimentos observados ontem no IPCA-15 de setembro (0,45%). O BC projeta alta de 0,40% em setembro, 0,30% em outubro e 0,27% em novembro. “Mas isso é pouco relevante para a política monetária.”